O “Scan” (A busca de faixas de música é mais rápida no vinil) é mais rápido, em milissegundos vou e volto em qualquer ponto da
faixa; Ver a faixa e saber exato ponto onde quer colocar a agulha; Ver a faixa!
2. Enquanto escuto, coloco a capa do LP no quadro de vidro porta-LP na parede
para admirar a foto ou fico lendo os textos da história da MPB ou sobre as
coisas da vida do cantor e seus relacionamentos musicais. Ou coisas como a
carta Londres-Brasil de Caetano Veloso quando estava no exílio. 3. A admirar as
belas capas, com fotos ou a arte e me deixar seduzir pelas fotos das belas
mulheres cantoras que posam tanto no lado A, quanto no lado B. 4. Gosto
tonalmente do LP. Para mim seu som é perfeito por que assim soa nos meus
ouvidos, com maior equilíbrio entre médios, graves e agudos ou porque é
eletronicamente integral e fiel ao sinal recebido nos microfones. Não há o
fatiamento da onda ou sinal. Estalos de estática ou de pequenos arranhões não
lhe retiram a beleza do som. Até porque em analógico nada se retira, tudo se
acrescenta. E às vezes, quando ponho um LP antigo, desses comprado em sebo, um
pouco arranhado, mas limpo ao meu coração, dada a afetividade que ele gera pela
importância que foi o resgate memorial daquela época, nem chega nada de estalo
aos meus ouvidos. E quando chega, vira um nostálgico barulhinho de chuva. 5.
Escutar as músicas no LP sempre da mesma forma como foram gravadas, pois não há
interpolação final de conversores, não há a menor mudança no registro cada
escuta. 6. Ler os textos técnicos dos LP’s de audiófilo da década de 50.
Aprende-se muito, como, por exemplo, saber como o LP foi gravado e as minúcias
técnicas de engenharia de som envolvidas. 7. Saber que eu nunca vou precisar
trocar meu toca-discos e nem a cápsula da minha agulha, se eu quiser.
Toca-discos Direct-Drive duram dez, vinte, trinta ou mais anos... Viram gente
da família! Nada é descartável num toca-discos. Só a agulha, que deve ser trocada
depois de 500 horas ou tempo semelhante estabelecido pelo dono, para evitar que
ela vire uma faca e fatie o sulco do LP. O Meu tem 34 anos de vida e toca
maravilhosamente bem. (TD 6000 Polyvox). 8. Saber que eu não vou me limitar a
uma única tonalidade de um conversor de uma leitora. Tenho no comércio,
principalmente o estrangeiro, um verdadeiro menu de cápsulas e agulhas de todo
tipo e marca para experimentar no meu toca-discos. E isso é legal porque a cada
cápsula v. tem uma surpresa, um tom diferente, um agudo diferente, médio ou
grave também diferentes. Saber que não fico amarrado ao projeto sonoro da
fábrica... A cada cápsula e agulha casadas, um som novo. 9. Levantar para
trocar de lado A para o lado B. Isso não tem preço e o coração agradece duplamente.
10. Saber que meu LP nunca, jamais, em tempo algum, “vai descer ladeira abaixo”
(Ocorre quando o CD pula seguidamente várias trilhas na mesma faixa, por estar
arranhado ou defeito de foco da leitora pelo cansaço de seu sistema
eletro-mecânico) ou vai olhar pra mim e dizer “ERRO” ou “ERROR” ou “NO DISC”.
Ele nunca vai me negar uma relação de amor! Ele me ama e não me deixa no
silêncio. 11. Felicidade em saber que se a agulha chegou até o fim do LP sem
uma poeirinha agarrada nela, é por que meu LP e está imaculadamente limpo, e
não escutei “erros” de registro. Escutei música integralmente pura. 12. Poder
comprar ( pelo menos nessa época atual) LP’s, com muita paciência, catando em
sebos gerais de livros e tudo, LP’s a 1,00 real! Isso mesmo, levar o LP, por
exemplo, “Para Não Dizer Que Não Falei das Flores” do Geraldo Vandré –
Camihando e Cantando”ou de uma Orquestra Sinfônica acompanhada de um Coral de
Niterói, datada de 1950, pasme, “Zero Kilômetro”, com superfície sem
absolutamente imaculada e sem nenhum arranhão! E sulcos sonoramente imaculados,
A 1,00 real. (Depois da minha lavagem mágica e criteriosa com tapa-selo). 13.
Poder comprar raridades de diversas épocas, 50, 60, 70 e 80, ter os originais
da Elis Regina, por exemplo, ter LP’s que jamais sairão em CD, HD AAC ou Blue
Ray por motivos comerciais, ou que jamais sairão gravados da mesma forma que
foram gravados (masterizações que cortam o fim da música ou um comentário final
do cantor, as palmas da platéia, coisas assim..) (Ou pior: Deletam um compasso
para a parte do silêncio diminir!!! Eu tenho um CD da Karen Carpenter onde o
silêncio entre uma voz e a outra foi diminuído! Isso é acabar com a arte que é
a música e uma agressão a quem conhece a referida música!). 14. Admirar o selo
do LP, principalmente aqueles que não existem mais, de gravadoras que não
existem mais, como a Polygram ou a RCA Victor. Há selos belíssimos! 15. “Babar”
nos encartes gigantes que vem dentro dos LPs como por exemplo, os diz Simone e
Gal Costa, Joana e Mariah Carey (esta gravou Raimbow em Vinil, lá fora), com
seus generosos 60,5 cm X 29,5 a capa da Gal Costa onde ela fica em pé com o
microfone na mão, em também generosos 62,5 X 31 cm ou ainda os encartes atuais
(2008) da Reedição de 30 anos do Premiado LP Dark Side of The Moon, do Pink
Floyd, com seus generosos 52,5 x 78 cm de pura arte! 16. Poder colocar um
adesivo dourado quando percebo que o LP que estou escutando teve uma excelente
produção, a arranjos e masterização, gravação alta e perfeita principalmente
nos graves e médios. Este adesivo (Pimaco) é uma forma que criei para destacar
os melhores LP’s da minha coleção em termos de áudio. 17. A possibilidade do
engenheiro de áudio colocar o grave que quiser no LP, bastando para isso
diminuir o programa total do LP, onde os sulcos que representam os graves ficam
mais sinuosos dias passados entre si, elevando a gravação para + 3dB e até +
5dB, óbvio, ultrapassando a marca de zero decibel sem precisar comprimir todo o
áudio (achatar o áudio) (como ocorre no CD que não pode passar de zero dB sem
“Clippar”, ou seja, distorcer inaceitadamente produzindo ruído mesmo). Há
compressores na gravação analógica, mas os compressores analógicos não
desnaturam a onda, não a codificam – são totalmente analógicos e só são
geralmente usados para conter as “marteladas” emotivas do bateirista (que geram
picos!) e aquele soltar da voz onde o cantor não segura sua emoção e aí nem
compressor dá jeito, como na música de Elis Regina “Como Nossos Pais”. (Esse
“pais” deu trabalho aos engenheiros!). 18. Saber que meu LP não vai morrer ou
aparecer morto um dia em que eu quiser e escutá-lo. Certamente morrerei antes
deles. Certamente meus netos e bisnetos os escutarão... 19. Saber que, se, ao
comprar LP usado num sebo, ele vier com uma faixa irremediavelmente saltando,
ou engatando, eu apenas preciso evitar aquela faixa. E o resto do LP está bom.
Com um porém: Às vezes a simples troca por uma outra agulha diferente resolve o
problema, já que as agulhas nunca tocam 100% e exatamente no mesmo ponto do
sulco e nem são afetadas da mesma maneira pela energia dinâmica que produz o
“engatar” ou o “saltar” da trilha da faixa, isso pelas diferentes tensões de
cantilever que elas tem e seus diferentes formatos, elíptica, shibata, cônica
etc. 20. Ver o LP girando... simplesmente... com a bela luz do strobo! São
essas as minhas vinte razões pelas quais o LP e o Toca-discos me emocionam
profundamente, em todos os sentidos. O único momento triste nesta relação é ter
que um dia, despedir-me daquela agulha porque sua vida acabou! Mas alguma coisa
tem que morrer, porque os vinis amados não morrem: São como diamantes: São eternos. (Joaquim Martins Cutrim).